Visitante
Cozinha Solidária para alimentar corpo, coraç e mentes: construindo a universidade popular no apoio à Ocupação Vitória.
Sobre a Proposta
Tipo de Edital: Pibex
Situação: Aprovado
Dados do Coordenador
tarcila mantovan atolini
2022101202230820
instituto de ciência e tecnologia
Caracterização da Ação
outros
direitos humanos e justiça
meio ambiente
desenvolvimento urbano
local
Não
Membros
ana márcia de melo
Voluntário(a)
ana alice franca da silva gomes
Voluntário(a)
mario mariano ruiz cardoso
Voluntário(a)
eduarda diana carvalho
Bolsista
ariele souza martins
Voluntário(a)
O projeto pretende apoiar o desenvolvimento da Cozinha Solidária da Ocupação Vitória, localizada no bairro Cazuza em Diamantina-MG. A cozinha serve, diariamente, por volta de 140 refeições, incluindo para moradores externos à ocupação. Na verdade, a demanda tem aumentado rapidamente diante da conjuntura social e econômica ainda pior por causa do longo período pandêmico que o Brasil tem enfrentado. A cozinha é resultado da organização popular pelo direito à cidade, à moradia, à cidadania. É uma solução coletiva que depende de um árduo trabalho, não somente para as tarefas cotidianas de preparo dos alimentos ou da própria construção do espaço (sempre conduzidos por moradores voluntariamente), mas também para a busca de doação de alimentos, recursos para a compra de gás de cozinha, encontrar lenha, racionar a pouca água que chega na ocupação, lidar com os resíduos sem sistemas de coleta, entre outros desafios. Nesse sentido, o projeto pretende dar um primeiro passo na relação dessas demandas com a universidade em sua multidisciplinaridade, se propondo a buscar coletivamente com a ocupação soluções para esses problemas. Seria um primeiro passo porque, a depender das soluções pensadas, a implementação exigiria maior tempo, equipe, recursos, etc. o que poderia gerar novos projetos. Portanto, a presente proposta vai no sentido de realizar um diagnóstico participativo associado a uma pesquisa-ação que possibilite a imersão da equipe do projeto na realidade da cozinha, a realização de um levantamento qualitativo e quantitativo de dados e informações para a compreensão do seu funcionamento, das suas necessidades e para, consequentemente, permitir o dimensionamento de possíveis soluções. Temos um horizonte, que será levado e debatido com a ocupação, de pensar um sistema "metabólico" de apoio ao funcionamento da cozinha, como associar a produção de hortaliças e frutas ao tratamento de águas cinzas, produção de biogás ao tratamento de resíduos, produção de galinhas, compostagem, energia solar, aproveitamento energético do fogão a lenha para o aquecimento de água, entre outras possibilidades.
Cozinha comunitária, segurança alimentar, sustentabilidade, tratamento de água, tratamento de residuos, universidade popular
A Ocupação Vitória é uma comunidade com cerca de 130 famílias que, na busca por moradia digna, esbarram na necessidade de pensar e resolver coletivamente questões diversas relacionadas ao território e à vida em comunidade. Os desafios que enfrentam estão para além da precariedade das habitações construídas com materiais provisórios como lona, pallet, tapume, não possuírem água encanada, banheiros, entre outros problemas. Consideramos que esses desafios também estão colocados para a universidade através da extensão universitária. Encontramos aí, portanto, uma diversidade de questões técnicas e sociais que merecem a nossa atenção e que, ao mesmo tempo, contém grandes potenciais para desenvolvimento científico e tecnológico, e para a formação de estudantes de diversas áreas. No intuito de concretizar esse vínculo, estamos registrando um programa de extensão mais amplo, mas neste projeto, especificamente, daremos especial atenção à "Cozinha Solidária" da ocupação. A cozinha foi organizada por um grupo de mulheres da ocupação que viram nela a possibilidade de reunir forças para conseguir alimento e preparar refeições para uma grande parte dos moradores em situação de extrema vulnerabilidade. A cozinha começou a funcionar em janeiro de 2021, num barraco erguido provisoriamente com lona, mas hoje já conta com paredes e telhado, graças à força-tarefa de moradores e apoiadores. Os alimentos que mantêm o funcionamento da cozinha são todos provenientes de doações. A cozinha conta com doações de supermercados, açougues, padarias, ONGs, coletivos, sindicatos e outros. Todavia, ainda assim, é um desafio manter a cozinha em funcionamento diariamente. Durante a semana, as refeições contam com o básico (arroz, feijão e alguma verdura) e apenas no final de semana é possível incluir carne no cardápio. Além de ser o espaço da produção e distribuição das refeições, a cozinha (como na maioria das casas) acaba se tornando a referência para os encontros, reuniões, estimula o envolvimento e a mobilização da comunidade, ou seja, é um espaço objetivo e subjetivo rico também para uma formação universitária engajada através do ensino, da pesquisa e da extensão realizados de maneira participativa. Desse modo, a presente proposta busca apoiar o desenvolvimento da cozinha, construindo coletivamente soluções possíveis diante dos desafios cotidianos como: alto consumo e alto preço no gás de cozinha, dificuldade para encontrar lenha para o fogão a lenha, dificuldade para captar doações de alimentos, falta de água, não tratamento de efluentes, falta de banheiro, entre outros desafios que deverão ser levantados durante o projeto. Algumas propostas já foram aventadas na ocupação como aproveitamento energético do fogão a lenha para aquecer a água de chuveiros, projetar um biodigestor para a geração de biogás que alimentaria o fogão a gás, associar as águas cinzas com sistemas de produção de frutas e hortaliças ou reuso em descarga sanitária para economizar água de melhor qualidade. Assim, a equipe do projeto deverá realizar imersões na realidade de funcionamento da cozinha a fim de conseguirem sistematizar as demandas, as propostas, e realizar o levantamento de dados e informações para o dimensionamento dos projetos específicos.
“Fica em casa!” - Palavra de ordem que entrou em cena como medida eficaz de controle da pandemia (e única por muito tempo). Mas..., em que casa? Em quais condições? Um estudo do IBGE revelou que em 2019 um em cada cinco brasileiros moravam em habitações precárias. Ou seja, no momento em que a pandemia estourou, além de problemas relacionados à documentação e ao uso de materiais inadequados, eram 10 milhões de pessoas em moradias que sequer tinham banheiros, de acordo com o estudo. O Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento também registrava 35 milhões de pessoas sem acesso à água tratada e 47% da população do país sem coleta de esgotos. A perda da renda ocasionada pelo aprofundamento da crise a partir de então levou muitas famílias ao despejo por falta de pagamento dos aluguéis, e isso vai resultar em novas ocupações precárias e cada vez mais pessoas em situação de vulnerabilidade. Eis uma das dimensões da miséria social no nosso país que ficou escancarada com a pandemia. Ela mostrou que moradia digna também é questão de saúde pública! Em Diamantina a situação não é diferente. Diamantina é nacional e internacionalmente conhecida pelo seu belíssimo patrimônio natural, cultural e histórico. Infelizmente tudo isso contrasta com uma profunda desigualdade social, característica assoladora de toda a sociedade brasileira. O custo de vida na cidade e os aluguéis por aqui sempre destoaram das cifras encontradas no entorno, fruto da elevada especulação imobiliária relacionada às atividades turísticas e à dinâmica dos universitários, além da ausência de políticas sociais na área de habitação para a população de baixa renda. É nessa conjuntura econômica, política e social, agravada ainda mais pela pandemia, que surge a Ocupação Vitória. Situada no bairro Cazuza, a Ocupação Vitória é composta por 130 famílias, sendo que metade delas estão em barracos de lona. A maioria não tem energia, nem banheiro ou qualquer estrutura de saneamento básico. O perfil geral dos moradores e moradoras é de famílias de baixa renda, sendo a maioria em situação de trabalho informal ou desempregada. Essas famílias encontraram na Ocupação sua única possibilidade de ter um teto, principalmente no contexto da pandemia, o que fez o número de moradores dobrar repentinamente. A área onde fica a Ocupação Vitória pertence originalmente ao Estado, com titularidade da Fundação CETEC (Centro Tecnológico de Minas Gerais) e gestão da Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado de Minas Gerais. O terreno de 60 hectares foi cedido à Prefeitura de Diamantina em 2002 e, desde então, permaneceu sem planos de uso. Algumas ocupações na área começaram a acontecer a partir de 2005 e de lá pra cá muitas foram as tentativas de desocupação realizadas pela prefeitura. A organização dos moradores e o apoio do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) possibilitou um importante avanço nas negociações de regularização fundiária com o poder público local. Já foi realizado um cadastramento das famílias e é a partir desse número de famílias cadastradas que se mantém a mesa de negociação. É nesse contexto que o projeto de extensão proposto pretende se inserir, levando a universidade como ator fundamental para a mediação e construção conjunta de soluções locais. Consideramos um terreno fértil para o desenvolvimento de uma diversidade de ações extensionistas. Essas possibilidades também se colocam uma vez que o movimento de organização popular na luta pela moradia faz da ocupação um coletivo de apoio mútuo, o que estimula o engajamento da comunidade em processos de transformação e implementação de projetos.
Objetivo geral: Estabelecer uma relação dialética entre a universidade e a Ocupação Vitória através da cozinha solidária, de modo que possamos colaborar com o desenvolvimento local nesse território e, ao mesmo tempo, levar à universidade o sentido popular e público que deve orientar seus esforços, oferecendo também mais oportunidades para uma formação humanista e engajada dos estudantes. Objetivos específicos: 1. Melhorar as condições de funcionamento da Cozinha Solidária da Ocupação Vitória; 2. Sistematizar e dimensionar soluções para a questão da água, efluentes e resíduos; 3. Sistematizar e dimensionar soluções para a produção local de alimentos; 4. Contribuir para uma formação acadêmica multidisciplinar e engajada na luta social.
Meta 1: Capacitar a equipe do projeto para intervenção social; Meta 2: Realizar um estudo sociotécnico sobre funcionamento da cozinha atualmente; Meta 3: Realizar um diagnóstico participativo dos problemas no funcionamento; Meta 4: Construir coletivamente propostas de soluções que integrem a cozinha a um sistema "socioecometabólico" mais sustentável. Meta 5: Consolidar um coletivo multidisciplinar para dar continuidade às propostas em projetos futuros.
Para o cumprimento das metas do projeto pretendemos formar uma equipe de trabalho multidisciplinar, com 3 a 5 estudantes de graduação. A equipe deverá ter uma rotina de encontros para planejamento e avaliação das ações do projeto e encontros específicos para estudos coletivos e formação. As metas de realizar estudos, diagnóstico e proposições serão realizados de forma participativa, utilizando metodologias que envolvam a comunidade em todo o processo, como a pesquisa-ação. Para isso será necessário estabelecer um espaço de diálogo permanente da equipe do projeto com a equipe da cozinha solidária. Pretendemos, portanto, propor a composição de um grupo de moradores e trabalhadores da cozinha que acompanhará o desenvolvimento do projeto.
IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2019. https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/saude/audio/2021-03/saneamento-basico
Dadas as características da extensão universitária e a partir de procedimentos metodológicos participativos, espera-se que o projeto possibilite a troca de saberes e fazeres entre sociedade e academia, processos mutuamente emancipatórios a partir da produção coletiva de conhecimento. Entendemos que mesmo numa demanda específica, como projetar um sistema de tratamento de águas cinzas para reúso, inevitavelmente nos deparamos com uma teia complexa de fatores e atores que precisam ser levados em consideração para resultados eficazes. Definir o local de instalação de algum equipamento, por exemplo, passa pelo diálogo e acordo entre os moradores além das questões técnicas. Portanto, a interdisciplinaridade e interprofissionalidade é inerente a ações como intervenções direta na realidade. Os estudantes que farão parte da equipe do projeto terão acesso a aprendizados específicos relacionados aos temas abordados e à metodologia participativa, conforme citado acima: aprender a colocar seus conhecimentos em prática, relacionar conteúdos da formação acadêmica, aprender a reconhecer os saberes empíricos e a experiência prática como conhecimento essencial para se encontrar soluções, etc. Além disso, os estudantes terão a oportunidade de atuar coletivamente entre si, através das reuniões, o que oferece um importante aprendizado para o trabalho em equipes interdisciplinares.
Através da relação com a universidade, pretende-se apoiar o desenvolvimento da comunidade através da cozinha solidária no sentido de melhorar a qualidade de vida das famílias da ocupação. E isso significa, nessa proposta, colocar o esforço do desenvolvimento científico e tecnológico para apoiar o processo de pensar soluções locais para as questões ambientais e sociais.
Público-alvo
Famílias sem teto. Pessoas com idades variadas, de bebês a idosos. Muitos desempregados ou em postos de trabalho de baixa remuneração.
Municípios Atendidos
Diamantina
Parcerias
A coordenação da Ocupação Vitória irá acompanhar todas as ações, auxiliando os diagnósticos, a elaboração de projetos, a avaliação e, principalmente, estimulando o envolvimento da comunidade.
Cronograma de Atividades
Período de aproximação e estabelecimento de vínculos entre os integrantes da equipe do projeto e entre a equipe, a ocupação e a cozinha solidária. Nesse período, pretende-se propor a constituição de um grupo formado pelos moradores da ocupação que acompanhariam e participariam do projeto. Além disso, faremos o planejamento da formação e das ações ao longo do ano, que deverá ocorrer no mês de recesso, março de 2022.
Curso de formação para a equipe do projeto, que poderá ser estendido para outros estudantes e moradores da ocupação. Temas: Universidade e Extensão Popular, Movimentos Sociais, Autogestão, Tecnologia Social, Segurança e Soberania Alimentar, Agroecologia e Agricultura Urbana, Metodologias de pesquisa e extensão participativas.
Socialização das tarefas realizadas pelos membros da equipe durante o mês. Planejamento e avaliação das ações do projeto. Essas reuniões serão intercaladas com as reuniões de trabalho com o grupo da ocupação, que também serão mensais
Espaço de debate e realização de diagnóstico e propostas de solução para os problemas de funcionamento da cozinha. Momentos de levantamento de dados e informações para os dimensionamentos necessários.
Confraternização de final de projeto com apresentação dos resultados do trabalho realizado. Poderá ser um evento aberto à participação de outros estudantes, professores e apoiadores da cozinha.